Pular para o conteúdo principal

A MORDAÇA DA DEMOCRACIA

ENTENDENDO AS ELEIÇÕES MAS SEM MENCIONAR OS FATOS PROIBIDOS

POR: Luiz Fernando Ramos Aguiar (Major Aguiar)


Como explicar o fenômeno da popularidade do atual presidente da república, principalmente quando se trata das redes sociais? E como seu gigantesco engajamento nas redes sociais e nas manifestações de rua não se refletiram com a mesma intensidade no primeiro turno das eleições? Como o candidato da esquerda, mesmo sem conseguir reunir pessoas ou empolgar na internet, obteve a proeza de vencer a primeira etapa das eleições? Serão mistérios tão inexpugnáveis como o sentido da vida ou a origem do universo? Talvez a complexidade das relações sociais e políticas do país façam com que os mistérios astronômicos, e até os astrológicos, sejam menos desafiadores. Até porque, nesses últimos casos, não precisamos buscar as respostas com uma mordaça na boca e uma venda nos olhos.

A trajetória do atual presidente, como fenômeno político, teve suas raízes na popularização das redes sociais. A quebra da hegemonia da imprensa mainstream como oráculo da verdade trouxe à tona a voz da maioria silenciosa, permitindo à sociedade brasileira expressar seus desejos ideológicos e pensamentos políticos mais sombrios, e eles eram terrivelmente conservadores. Aliás, como já havia sido profetizado pelo Professor Olavo de Carvalho, o primeiro candidato à presidência da república com um discurso conservador seria eleito. O crescimento da popularidade de Bolsonaro, catalisado por postagens em redes sociais, vídeos virais e participações em programas populares na TV aberta, tornou-se o pesadelo dos intelectuais, dos artistas e jornalistas do beautiful people. O choque estético, entretanto, estava confinado às redações, aos salões universitários e aos saraus de MPB. Enquanto isso, nas telas dos smartphones e telas dos computadores, pela primeira vez, o brasileiro comum reconhecia-se no discurso de um líder político.

A reação era inevitável e, com certeza seria fulminante, a estratégia foi sempre menosprezar, diminuir ou ridicularizar Bolsonaro. A esquerda caviar aliou-se aos marxistas mais fundamentalistas com o objetivo de restaurar a ordem pré-estabelecida. No mundo político só havia um caminho, sempre a esquerda, o progressismo era a orientação, o socialismo a liturgia e o comunismo o dogma. Posições ambíguas, ao centro, poderiam ser toleradas, desde que seus defensores fossem submissos ao fisiologismo e a corrupção e estivessem sempre ao lado esquerdo nas questões fundamentais. Mas para angústia do establishment, as estratégias contra o deputado maluco do baixo clero não surtiram o efeito desejado. A espiral do silêncio estava sendo rompida, inexplicavelmente a rusticidade do “maluco” dava ao cidadão comum a liberdade de dizer o que pensava, não raro, com a mesma simplicidade e aspereza do capitão.

Muitos acontecimentos que funcionaram como fermento para o crescimento desse fenômeno não poderão ser tratados no presente texto. A escalada das reações ao crescimento do bolsonarismo fez ressurgir uma política que se considerava extinta no país, a censura. No momento em que escrevo esse texto posso ser punido por qualquer menção pejorativa ao Partido dos Trabalhadores, ao seu candidato à presidência ou aos iluminados, puros e excelsos detentores máximos das virtudes democráticas, os imperativos imperadores do STF. Assim, peço ao leitor que faça um exercício imaginativo  preenchendo esse parágrafo com os fatos e decisões que rechearam as páginas policiais e políticas nos últimos anos, adicionando os ingredientes a esta receita.

No plano objetivo, a bigorna da realidade exacerba a popularidade de Bolsonaro, que no último dia 07 de setembro levou às ruas milhões de pessoas, que a cada participação em podcasts quebra recordes de audiência e arrasta para suas redes sociais milhões de seguidores fiéis. Fala-se em intensidade de engajamento, o que pode não refletir em número de engajados, justificando a vitória da esquerda no primeiro turno. Argumenta-se que a campanha bolsonarista utiliza robôs e ferramentas tecnológicas, que simulam uma popularidade imaginária. Brada-se que as “fake news”, propagadas por radicais da extrema direita, são responsáveis pelo fenômeno. Os arautos da esquerda, que povoam toda a mídia tradicional (jornalística, artística e intelectual), invertem seus próprios argumentos, sinalizando virtudes, como justificativa a vantagem eleitoral do homem mais honesto do Brasil.  Mas todos argumentos soam artificiais, inverossímeis,  não resistem a uma caminhada pelas ruas, a uma viagem de Uber ou a visita a qualquer uma das plataformas de redes sociais.

Realmente os mistérios são virtualmente indecifráveis e para desvendá-los seria necessário explorar fatos que, atualmente, foram proibidos no debate público. Assim, qualquer que seja o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, a sociedade estará às cegas. Estamos condenados a aceitar a tutela da aristocracia jurídica, seremos reféns das autoridades políticas e teremos que engolir as análises e interpretações dos sacerdotes do “jornalismo profissional”. O fenômeno do atual presidente permanecerá um mistério, desvendado apenas aos iniciados, aos gnósticos dos tempos modernos, detentores dos conhecimentos proibidos, sempre sob a ameaça da fogueira dos inquéritos e cancelamentos. Na verdade, não importa de quem seja a vitória, a democracia brasileira foi ferida. Mas precisaremos escolher entre a morte certa do estado de direito e uma chance combativa de sua sobrevivência.     

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Polícia Federal desmonta esquema de lavagem de dinheiro em sete estados --- créditos CNN

Polícia Federal desmonta esquema de lavagem de dinheiro em sete estados PF cumpriu 18 mandados de busca e apreensão e realizou o bloqueio de mais de R$ 118 milhões dos investigados PF realiza operação para desmontar esquema de lavagem de dinheiro em sete estados brasileiros Divulgação/Polícia Federal Vianey Bentes da CNN em Brasília 20/10/2022 às 17:01 Compartilhe: Ouvir notícia A  Polícia Federal (PF)  deflagrou nesta quinta-feira (20) a operação Gold Rush — que investiga um esquema de lavagem de dinheiro em sete estados brasileiros. A PF cumpriu 18 mandados de busca e apreensão e realizou o bloqueio de mais de R$ 118 milhões dos investigados, por determinação da 4ª Vara da Justiça Federal de  Roraima . As autoridades investigam atuação dos envolvidos no Amapá, Amazonas, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Roraima e São Paulo, que usariam o comércio de ouro retirado de garimpos ilegais de Roraima e contrabandeados para a Venezuela. A suspeita é que tenham sido movimentados mais de R$ 300 mi

Governo brasileiro lança projeto piloto contra crimes violentos

Governo brasileiro lança projeto piloto contra crimes violentos Rio de Janeiro, 29 ago (Xinhua) -- O governo brasileiro lançou nesta quinta-feira um projeto piloto para combater crimes violentos em cinco cidades do país. Batizado "Em Frente Brasil", o projeto envolve ações conjuntas do governo federal com os governos estaduais e municipais, e um investimento de R$ 4 milhões (US$ 959 mil) em cada cidade para lidar como os crimes. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e representantes dos governos locais assinaram documentos de cooperação na cerimônia de lançamento na Brasília. As cidades escolhidas, localizadas em cinco regiões do país, registraram altos números de homicídos dolosos nos últimos anos, segundo Moro. As ações também buscam lidar com as causas das altas taxas de crime, que pode resultar em degradação urbana, disse Moro. Créditos Xinhua, publicado originalmente em:  http://portuguese.xinhu

LFS SEGURANÇA --- A PREOCUPANTE EXPANSÃO DAS MILÍCIAS! (O Estado de S. Paulo, 18) --- Créditos Ex-Blog do César Maia

Foto ilustração A PREOCUPANTE EXPANSÃO DAS MILÍCIAS! (O Estado de S. Paulo, 18) Há quatro décadas grupos armados expandem seu domínio territorial na região metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo o Mapa dos Grupos Armados, do Grupo de Estudos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense e do Instituto Fogo Cruzado, nos últimos 16 anos o crime organizado ampliou seus territórios em 131%, saltando de 8,7% da área urbana habitada para 20%. O fato novo é que as milícias estão se tornando a principal ameaça à segurança no Rio. Nesse período, enquanto as áreas sob domínio do Comando Vermelho (CV) cresceram 59% e seu controle sobre a população cresceu 42%, o domínio territorial das milícias aumentou 387% e o populacional, 185%. Sua participação sobre as áreas controladas pelo crime subiu de 24% para 50%, enquanto a do CV caiu de 59% para 40%. No domínio sobre a população, se a participação do CV caiu de 54% para 46%, a das milícias subiu de 22% para 39%. A pesquisa destaca dois marco