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Caso Lázaro Barbosa: representantes de terreiros denunciam truculência de policiais durante buscas no Entorno do DF

 

Por G1 DF e TV Globo

 


Lázaro Barbosa, de 32 anos, é suspeito de matar família no DF e fugir para Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo

Lázaro Barbosa, de 32 anos, é suspeito de matar família no DF e fugir para Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo

Lideranças de religiões de matrizes africanas afirmam que policiais agiram com truculência durante buscas por Lázaro Barbosa, de 32 anos, em terreiros de Águas Lindas e em Cocalzinho de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. As forças de segurança procuram pelo homem há 11 dias. Ele é apontado como o autor de uma chacina contra quatro pessoas da mesma família na capital.

O grupo afirma que os policiais agiram com violência, apontaram armas e depredaram altares nos terreiros, por suspeita de que Lázaro poderia estar nesses locais (veja mais abaixo). Eles registraram ocorrência policial por conta dos casos. A TV Globo apurou que parte das abordagens da força-tarefa neste sábado (19) ocorreu em terreiros na área.

Os líderes religiosos dizem ainda que "imagens dos alegados 'rituais satânicos' que estão sendo divulgadas pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de umas de nossas casas". Questionada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.

Pai André de Yemanjá denuncia truculência de policiais durante buscas por Lázaro Barbosa
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Pai André de Yemanjá denuncia truculência de policiais durante buscas por Lázaro Barbosa

O pai André de Yemanjá, do terreiro Estrada da Vida, diz que foi tratado com truculência (veja vídeo acima). "Bateram no meu caseiro, me desacataram com palavras que eu não gostei. Tive que dizer que tenho 80 anos, eles podiam me respeitar um pouco. Eles mandaram eu calar a boca", afirma.

Já o líder afro tradicional de Águas Lindas de Goiás Tata Ngunzetala conta que ficou sob a mira de armas. "Quando eu vi eles pulando o muro, pensei assim: 'O Lázaro deve estar por aqui, porque aqui tem um córrego no fundo, deve estar subindo, aí eles vão dizer para eu me abrigar. Eles estão aqui pra me proteger".

O líder religioso Tata Ngunzetala — Foto: TV Globo/Reprodução

O líder religioso Tata Ngunzetala — Foto: TV Globo/Reprodução

"E não era verdade. Eu era o alvo acusado de estar dando guarida e acobertando o Lázaro, sem mandado judicial, sem acusação formal, não me deixaram falar, entraram no meu celular, no meu computador pessoal. Eu fiquei sob a mira de fuzis por mais de 30 minutos", diz.

O grupo também divulgou nota ressaltando que "não têm relação com atos criminosos, e, mesmo que fossem praticados por alguma pessoa que pertencesse a uma tradição afro, não nos vincularia de maneira coletiva a atos e ações criminosas e desumanas. Estes atos devem ser sempre atribuídos pela lei à pessoa civil" (veja íntegra ao fim da reportagem).

Busca por Lázaro

Veja os passos de Lázaro Barbosa na última semana
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Veja os passos de Lázaro Barbosa na última semana

Desde a chacina contra a família moradora do Incra 9, no DF, em 9 de junho, Lázaro Barbosa é alvo de uma megaoperação de buscas, que conta com centenas de agentes de forças de segurança do DF, Goiás e federais.

Durante a fuga, ele já invadiu pelo menos 11 chácaras na região, fez diversos reféns e baleou quatro pessoas. Neste sábado (19), o cerco se concentrou em Águas Lindas de Goiás, depois que um morador viu uma pessoa suspeita entrando em uma gruta na área.

Veja íntegra da nota dos representantes de religiões de matrizes africanas:

"As autoridades afro tradicionais e organizações representativas dos povos tradicionais de Matriz Africana, abaixo assinadas, vem a público manifestar seu repúdio aos violentos ataques racistas praticados contra as casas de matrizes africanas na Região de Aguas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia em Goiás, na tentativa de nos vincular ao foragido conhecido como Lázaro e aos crimes a ele atribuído.

Consideramos intoleráveis as invasões e abordagens policiais truculentas injustificadas, bem como a campanha difamatória propagada por diversos veículos de comunicação.

Afirmamos veementemente que nossas tradições não têm relação com atos criminosos, e, mesmo que fossem praticados por alguma pessoa que pertencesse a uma tradição afro, não nos vincularia de maneira coletiva a atos e ações criminosas e desumanas. Estes atos devem ser sempre atribuídos pela lei à pessoa civil.

Entretanto estamos sendo atacados de maneira vil e racista sob o falso pretexto de estarmos servindo de abrigo ao foragido.

São graves os relatos de depredação dos nossos territórios mediante intimidação e agressões físicas.

As imagens dos alegados “rituais satânicos” que estão sendo divulgadas pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de umas de nossas casas.

O que de fato estas imagens retratam são elementos sagrados de nossas divindades, especificamente ligadas ao culto ao Orixá Exu e aos exus guardiães de Umbanda. Estes apetrechos nunca pertenceram ao procurado e nem tampouco guardam relação com o satanismo, referência que não faz parte da cosmogonia e mitologia afro.

Trata-se de um vilipendio ao nosso culto e aos nossos valores civilizatórios, sendo, inclusive registrado o Boletim de Ocorrência nº 19925673, Estado de Goiás, Secretaria de Segurança Pública, em 18/06/2021.

Quando uma de nossas comunidades é atacada todas se sentem igualmente agredidas. Nossa visão de mundo, nossos princípios e valores civilizatórios merecem respeito.

Tamanha violência só se torna possível fundamentada no racismo estrutural presente em nossa sociedade. E por razão deste todos os nossos símbolos e vivencias continuam sendo alvo de diversas violações.

Exigimos que o assédio e violação dos nossos espaços cessem imediatamente com a apuração e responsabilização das forças policiais pelas agressões a nós impostas.

Exigimos que os Estado Brasileiro, laico em sua constituição, garanta a liberdade e integridade dos nossos territórios tradicionais, liturgias e referenciais de mundo afro centradas.

Exigimos também que os meios de comunicação de massa param de vincular ideias negativas e criminosas a nossas casas e tradições, inclusive com a divulgação deste manifesto.

Apoiamos o esforço policial em consonância com os ditames legais na garantia da segurança de toda sociedade, respeitando toda nossa diversidade, no efetivo cumprimento do dever que lhe é imposto.

Por fim, nos solidarizamos com as vítimas e familiares dos acontecimentos brutais tão amplamente divulgados e nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos e apoio à toda sociedade.

Que seja feita justiça! Reparação já

Águas Lindas de Goiás, 19 de junho de 2021."

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF



Créditos G1

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